POLÍTICAS EDUCACIONAIS E O COOPERATIVISMO: CONJECTURAS A PARTIR DA PROPOSTA DO PROGRAMA A UNIÃO FAZ A VIDA
DOI:
https://doi.org/10.5747/ch.2023.v20.h552Palavras-chave:
Políticas Educacionais, Relações público-privadas, Programa EducacionalResumo
O objetivo do ensaio teórico é analisar a proposta educacional contida no Programa A União Faz a Vida, de iniciativa da Fundação Sicredi. A partir dos fundamentos epistemológicos e ontológicos do método do materialismo histórico-dialético, recorreu-se à análise de documentos, a exemplo da proposta do Programa em tela. Os resultados revelaram que nos últimos anos houve uma considerável interferência do setor privado na educação escolar brasileira, tendo como consequência a descaracterização da função do Estado na execução direta das responsabilidades sociais com a educação pública. No contexto educacional as iniciativas privatistas se intensificaram, o que caracteriza a responsabilização direta mediante a dimensão privatizante da oferta educacional, da gestão e do currículo. O Programa A União Faz a Vida transita, neste contexto, como formador e parceiro do Estado, além de atender aos interesses do empresariado e do mercado econômico em distintos municípios brasileiros. Quanto à atuação do Programa analisado, a formação para o cooperativismo tem sido o cerne da proposta difundida ao longo dos últimos vinte e sete anos, embora tal dimensão esteja distante de uma perspectiva contra-hegemônica que favoreceria um efetivo processo de apropriação, por parte dos estudantes, em termos de objetivações produzidas pela humanidade e que poderiam culminar à emancipação, com vistas à transformação da prática social.
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