(IN)VISIBILIDADES DA POPULAÇÃO NEGRA NO JORNAL CURITIBINHA ESCOLAR
Palavras-chave:
Zumbi dos Palmares, Representação racial, Materiais didáticos, Iconografia decolonial, Racismo estruturalResumo
Este artigo analisa criticamente a representação visual de Zumbi dos Palmares e pessoas negras no Jornal Curitibinha Escolar (1994-2000), com foco em uma tirinha específica, sob a perspectiva de teóricos como Foucault, Hall, Hooks, Panofsky e Rose. A análise iconográfica e discursiva revela como essas representações, embora aparentemente inofensivas, perpetuam estereótipos raciais, despolitizam a resistência negra e reforçam narrativas históricas alinhadas a uma lógica colonialista. A figura de Zumbi, um símbolo de luta e emancipação, é retratada de forma caricatural e desprovida de seu papel revolucionário, limitando sua significância a uma celebração cultural apolítica. Utilizando a metodologia iconográfica de Panofsky e as reflexões sobre poder e discurso de Foucault, o estudo identifica os mecanismos visuais e narrativos que mantêm as hierarquias raciais no imaginário escolar. A análise demonstra que, ao infantilizar e folclorizar a cultura afro-brasileira, esses materiais reproduzem dinâmicas de apagamento e marginalização, prejudicando uma compreensão crítica da história e das contribuições negras. A pesquisa conclui que é urgente revisar as representações visuais nos materiais educacionais para promover uma iconografia decolonial que valorize a complexidade e a resistência das populações afro-brasileiras. O estudo enfatiza a necessidade de um esforço coletivo para integrar narrativas críticas e inclusivas na educação, combatendo o racismo estrutural e simbólico desde as primeiras fases do aprendizado.
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